sexta-feira, 10 de junho de 2011

Experiências

Estava atualizando meu currículo quando me deparei com o item "experiências profissionais".

Pensei. Pensei bastante.

Preenchi com a descrição das funções e atribuições que tive em todas as empresas que trabalhei. Detalhadamente. Não precisei me preocupar com o espaço ou a regra do "máximo duas folhas", porque no LinkedIn é o contrário, quanto mais detalhado, melhor.

Mas percebi um porém.
Como posso expressar meus mais de 25 anos de experiência num site?

Como alguém pode saber como foram esses seus 25 anos de trabalho? Foram bem aproveitados? Foram edificantes? Maçantes? Interessantes?

Acredito que qualquer pessoa, por mais bem letrada que seja, jamais consiga passar toda a experiência que teve para alguém.

Sabe por quê?

Porque nessas experiências, além do trabalho, houveram amizades, relacionamentos, desventuras, comemorações, infinitas horas extras regadas com coca-colas e pizzas às 21h00, sabendo que meia-noite era pouco. Sábados sem a companhia da família. Mas com a companhia da família do trabalho. Buscas por resultados, ora celebradas, ora amarguradas.

Olho para trás e tenho a sensação que o tempo passou muito rápido. Vejo que tive oportunidades que não soube aproveitar, mas também tive conquistas. Errei em muitas decisões, e acertei em outras. Mas tomei decisões.

Quando comecei a trabalhar, tinha todo o gás do mundo, queria mudar tudo e me sentia invencível, porém cheio de vontade de aprender. Tinha que lidar com a indiferença dos mais experientes ou descrentes por minha idade. Tinha que provar para todos que, apesar da pouca experiência e idade, sabia o que estava fazendo ou dizendo. E não via a hora de ter 2, 5 ou 10 anos de experiência para não precisar provar mais nada para ninguém.

Que tolo eu era!

Hoje tenho mais de 25 anos de experiência e vejo que tenho muito ainda a aprender. E o pior: agora tenho que provar para todos que não sou "velho" ou "ultrapassado".
Antigamente (papo de "velho", eu sei) calçava-se na experiência. Na década de 1980, quem tinha 25 anos de experiência podia fazer algumas besteiras, pois usavam o tempo de experiência como muleta. Quem, alguma vez na vida, não recebeu a "carteirada": "faço isso há 25 anos, sei o que estou fazendo!". Você até pensava: "e ainda não aprendeu?", mas ficava quieto. "Ele tem experiência", você pensava.

Hoje é diferente.

Hoje não basta a experiência. É preciso habilidade, mas acima de tudo, criatividade. Em todas as áreas. Desde a "tiazinha" da limpeza ao presidente, é preciso ter criatividade.
Já vi "moleques" darem bailes em muitos experientes calçados em suas muletas. Já estive dos dois lados. Já fui o moleque que deu o baile, hoje sou o experiente que já levou baile. Mas procuro não me calçar em minha muleta. Aliás, joguei a minha fora.

Hoje sou um experiente que gosto e gostaria muito de trocar minhas experiências com esses moleques, mostrá-los o que dá certo e o que é uma tremenda besteira. E absorver essa energia do novo, do criativo, que toda molecada tem em começo de carreira. Aprenderia muito com eles. Infelizmente, nem todos tem vontade ou paciência para ouvir um experiente. Principalmente agora, para essa geração Y, X ou Z, ou qualquer letra do alfabeto, ávidos pelo imediato, o agora, o já. É uma pena. E para ser sincero, tenho pena deles. São rasos, não se aprofundam em nada. Não sabem e nem querem saber o que querem. Mas há exceções, sei disso. Ainda bem.
Mas ter experiência é bom. É muito bom. Vou usar minha área como exemplo.

Na minha área tínhamos que projetar em 3D numa época em que não havia computadores para isso. Só pranchetas. Tínhamos a visão 3D num desenho em 2D. Nossa criatividade era mais aguçada, mais cutucada, pois tínhamos que convencer nossos clientes com desenhos em perspectivas feitas à mão, horas a fio. Muitos não conseguiam enxergar, mas acreditavam em nossas convicções, pois desenhávamos ali, no ato, na frente deles, rabiscos que esclareciam tudo.

Hoje é tudo muito fácil. A facilidade dos programas em 3D nos tornam preguiçosos. Muitos com pouca experiência não conseguem enxergar em 3D, são escravos dos DomusCAD's¹, Sketchup's², AutoCAD's³ e 2020's* e, mesmo assim, cometem erros tão primários. É nessa hora que entram nós, experientes. Os "da prancheta". Imagina uma pessoa experiente, que passou por tudo isso e ainda sabe "manejar" os DomusCAD's¹, Sketchup's², AutoCAD's³ e 2020's* da vida. Imagina o poder de informação que este profissional tem!

Isso não quer dizer que sou contra a esses programas. Pelo contrário. Sou usuário de todos que citei e outros mais. Há inúmeras facilidades que não tínhamos na prancheta. Como disse, sou contra a preguiça que eles causam nos projetistas.

É por isso que acredito na dificuldade de expressar décadas de experiências em tão poucas palavras.

Infelizmente, nem todas as empresas enxergam assim.

Mas isso é uma outra história.

É isso aí. Pode ser.

Desenhos à mão livre: Arquiteto Eduardo Bajzek Barboza
(¹) DomusCAD é um programa de desenho em 3D da DomusCAD.
(²) SketchUp é um programa de desenho em 3D da Google.
(³) AutoCAD é um programa de desenho em 2D/3D da Autodesk.
(*)2020 é um programa de desenho em 3D da 2020 Technologies.

2 comentários:

rnogueira disse...

MA seu blog ta muito legal parabéns

f.fabricio-designer disse...

Marcelão, acabei de me formar em Técnico em Design de Interiores no alge dos meus 43 anos me vi sendo um CDF (Alguns vão lembrar o que significa) nas aulas, fazia tudo que o professores pediam, comprava materiais, esquadros, escalímetros, lapeiseiras, 03, 05, 07 e 09, fazia questão de economizar pra comprar uma Pentel e ter orgulho delas, dos 35 alunos que começaram, 13 de formaram e desses 13 ainda vejo se perguntarem; Peraí, eu vim aqui nesse curso pra desenhar a mão? é uma pena, mas também sou das antigas, maravilhoso esse seu post PARABENS, abraço... Fião

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